Impressões Digitais

Há algumas semanas, nós jantámos juntas. Tu deste-me a provar o teu prato. Eu lambi-te a ponta dos dedos. E aí, vi com espanto que, com o molho, eu também tinha sorvido as tuas impressões digitais.
Há algumas semanas, nós estreitámo-nos nos braços. Passei a mão pelos teus cabelos, e então os teus caracóis prenderam-se nas minhas impressões digitais como um pente de má qualidade. Completamente enredados, encrespados, esguedelhados.
Há algumas semanas, beijámo-nos. Demos as mãos e elas entrelaçaram-se. Uma na outra com suavidade. Como uma moca chinesa. Imbricadas. Agrafadas.
Há algumas semanas, dormimos juntas. Acariciei-te longamente durante a noite, a tal ponto que, ao acordarmos, as minhas impressões digitais estavam impressas na tua pele. O teu corpo estava cheio delas.
Há algumas semanas, fizemos amor juntas. O suor durante o abraço diluiu as nossas impressões digitais. Como uma má almofada de carimbo, eu vi-as escorrer sobre ti. Tornaram-se líquidas e fluidificaram-se sobre os poros da tua pele. Há algumas semanas, agarraste-me pelas costas. No entusiasmo do nosso abraço, meteste-me os dedos na boca. Para meu grande espanto, passados alguns minutos, notei que havia trincado as tuas impressões digitais. Estavam em bocados nos meus lábios e sobre o travesseiro, como um bombom esborrachado.
Bénédicte Martin
7 Comments:
Doce,como chocolate fino; surpreendente, como a cereja que se derrama; delicioso pela conjunção de ambos.
Texto com gosto italiano... :)
I like it...
Ah Ah Ah...
a cereja navega por doce licor nunca dantes navegado
Bacci
Tenho a impressão que se está a digitalizar uma Vida!
;)
Benedita:
Já te sabia apaixonada por coisas doces. Mas com franqueza! trincar uma impressão digital como se fosse um bombom!! Pelo menos era daqueles(as) com licor dentro?
Junto, envio-te uma caixinha de Ferreros Roché. São os melhores para trincar e fazer amor. Pelo menos é o que sugere a publicidade, não que eu tenha experimentado...
O teu motorista,
Alfredo.
PS: vou ter mais cuidado com as imitações, vou...
beijo.
a,
Também parece-me que sim.
Embora tenha levado algum tempo a chegar lá, mas é como diz o outro:
"Tarde é o que nunca chega."
Qualquer coisa, é ali do outro lado.
Texto muito imaginativo.
Mon chérie, só me resta um onde gravarei as minhas impressões digitais, antes de o meter gulosamente na boca.
"Homens ofendem por medo ou por ódio"
N.M.
BNP
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