From São Miguel
Ponta Delgada, 14 de Julho de 2005
Querida Sara,
Sabes o que é viver saboreando o mundo, o ar que respiramos; sentir o perfume das flores, do verde e do azul; ouvir a melodia das quedas de água, das ribeiras, a sinfonia dos pássaros, o balançar das ondas do mar, o murmúrio nocturno silencioso, envolvente e inebriador? É um mundo frágil e selvagem de avassaladora beleza que aqui encontramos em São Miguel…
Ontem, fui para o mar com uns amigos do Gonçalo, que trabalham no Instituto de Oceanografia da Universidade dos Açores, em busca dos calmos gigantes destas águas. Uma viagem inesquecível…
Hoje, por entre prados e cerrados de criptomérias e hortênsias, de campos que se atrevem até ao mar, os caminhos levam-me à costa norte e centro da ilha. A caminho da Ribeira Grande, surpreende-me um horizonte de colinas verdejantes e floridas. O mar, aqui, é mais rebelde, mas espraia-se em areais extensos numa sucessão de canudos de espuma branca. Num dia de pálido sol de Inverno, é de uma beleza agreste e tocante – dizem. Porém, no Verão, as delícias destas águas não deixam ninguém indiferente, e é tempo de aproveitar a liberdade na frescura salgada das praias abundantes. Demoro o olhar na serenidade do casario tradicional e nos jardins de pedra, e um sorriso nasce.
A Lagoa do Fogo, ao contrário de outras lagoas da ilha, rodeadas de floresta, é uma cratera vulcânica cercada de rocha coberta de vegetação rasteira. O que poderia supor ser um local desolado e inóspito, é, todavia, mágico e único, que nos envolve e pacifica o espírito. Do cume do seu alcantilado, o privilégio de avistar, na direcção do poente, as duas costas de São Miguel, e enche-me o olhar incrédulo toda a verdadeira dimensão da natureza magnífica que me rodeia (e da nossa pequenez). Quedo-me, assim, de espanto imóvel… e nem ouso respirar com medo que tudo desapareça.
Ainda deslumbrada, sigo viagem até ao Lagoa do Fogo, porque o alimento do estômago é outro. Toda a arquitectura e decoração, do restaurante, são a bonita mistura da pedra basáltica com as decorativas madeiras de criptoméria e acácia, fazendo lembrar as casas de séculos passados destas ilhas. Ainda no interior, um pequeno mimo: pode-se escutar e contemplar um ribeirinho que atravessa o bar, aproveitamento feito de uma ribeira que ladeia o restaurante. O Lagoa é um espaço gastronómico a não esquecer: a morcela com ananás, a cataplana de cherne com gambas, a fritada de peixes com molho vilão, e para adoçar a boca, no final da refeição, a espetada de frutas com molho de laranja. Verdadeiros pecados…
Estou de volta a Ponta Delgada. Pelo caminho, a paisagem continua a seduzir-me: praias de areias escuras e mornas, casas de cal e basalto, o verde dos campos, o azul do mar, o azul algodão do céu… Porém, o tempo micaelense é caprichoso. Por momentos, o céu carrega-se de negro obrigando o sol a romper em raios tímidos, mas vibrantes; segundos depois, o horizonte é um sfumatto que se dissipa, lentamente, oferecendo de novo um sol forte e caloroso, como as gentes de aqui.
Bem, parece-me que vou terminar, pois este e-mail já passou a testamento; por outro lado, tenho de me apressar: vou jantar a Relva, à Toca do Abade, que possui um curioso serviço. Ligando para lá, os donos vêm-nos buscar a Ponta Delgada e depois trazem-nos de volta, sem pagarmos um cêntimo. Algo a ter em conta quando se vai provar uns taninos.
Ainda deslumbrada, sigo viagem até ao Lagoa do Fogo, porque o alimento do estômago é outro. Toda a arquitectura e decoração, do restaurante, são a bonita mistura da pedra basáltica com as decorativas madeiras de criptoméria e acácia, fazendo lembrar as casas de séculos passados destas ilhas. Ainda no interior, um pequeno mimo: pode-se escutar e contemplar um ribeirinho que atravessa o bar, aproveitamento feito de uma ribeira que ladeia o restaurante. O Lagoa é um espaço gastronómico a não esquecer: a morcela com ananás, a cataplana de cherne com gambas, a fritada de peixes com molho vilão, e para adoçar a boca, no final da refeição, a espetada de frutas com molho de laranja. Verdadeiros pecados…
Estou de volta a Ponta Delgada. Pelo caminho, a paisagem continua a seduzir-me: praias de areias escuras e mornas, casas de cal e basalto, o verde dos campos, o azul do mar, o azul algodão do céu… Porém, o tempo micaelense é caprichoso. Por momentos, o céu carrega-se de negro obrigando o sol a romper em raios tímidos, mas vibrantes; segundos depois, o horizonte é um sfumatto que se dissipa, lentamente, oferecendo de novo um sol forte e caloroso, como as gentes de aqui.
Bem, parece-me que vou terminar, pois este e-mail já passou a testamento; por outro lado, tenho de me apressar: vou jantar a Relva, à Toca do Abade, que possui um curioso serviço. Ligando para lá, os donos vêm-nos buscar a Ponta Delgada e depois trazem-nos de volta, sem pagarmos um cêntimo. Algo a ter em conta quando se vai provar uns taninos.
Um beijo,
Rach
4 Comments:
Uma lira, menina. Saudade da bandeja e do café... da palavra grácil. S. Miguel ...encheu-me a alma e os olhos. Mas ia para o teu Alem do Tejo, para um lado ou outro...Um bando. Voamos em bando? Sonhamos em ave? Amigas(os)preciosos, como os encontrarei neste silêncio das teclas? Bjinho Welcome...
Olá
É sempre uma viagem que faço, vindo até aqui.
Uma boa Páscoa.
beijo
Que Alegria boa esta de recordar a Ilha de S. Miguel.
Foi onde fiz a passagem de Ano mais importante da minha vida!
Obrigada Rach por me fazer reviver bons momentos, sabe sempre bem.
Beijos
G.
Não sei se deveria estar assim, a ler correspondência alheia!... :)
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