sábado, março 24, 2007

Alegoria


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Gosto de me cruzar contigo nas ruas desta cidade, de marcar encontro no miradouro da Graça, no Castelo, em Alfama, São Vicente e… de levar comigo o teu olhar. Gosto de deambular o indicador pela geografia do teu rosto e de aí contemplar um rio chamado tempo; de ouvir a tua voz do outro lado da cidade e sentir-te como se aqui estivesses. Gosto da tua alegre loucura; da palavra, da frase na página ainda por encher. Constróis um castelo na areia do futuro, um exército de heróis, de imagens, de alegorias e de sentimentos rompe as linhas do infinito, derrubando os muros da manhã: hamlets, valquírias, romeos e julietas, dom quixotes e sanchos pança, letícias e rosas do vale … miosótis bancários, camélias e magnólias analépticas com estadia em hotéis qui invitent au mystère. Enfim, ambientes a criar estados e lirismos erotizados, corrupios espirituais no ser. Sentes-te, então, disponível para descobertas… “É o que faz o amor não ser uma companhia”, dizes. E como queres brincar aos anjos da guarda, transformas a noite em dia, para assim viveres em alegria spleeniana.
Gostas de ir até à Cité de la Mer, à Cherbourg, de aí passear a memória, para que o murmúrio lento de uma cantiga de amigo te repita o amor numa insistência de refrão, como os amantes do Pont Colbert, já que Lutécia é lá à frente. Por entre o vento que sopra e morre à margem do infinito, do vazio de ser em universo uníssono canto, as aves sucedem-se bailando à chuva.
Descalças-te, como se assim te despojasses de ti, e vais até à beira melancolia. Lembras aquele meio de tarde em que ela te viu, tal uma pétala de rosa, a querer entrar pela vitrina de serenos nenúfares, de banhistas cézannianas, e de violinos analíticos. Recolheu-te as lágrimas na palma da mão e, lançando-as ao céu, bandos de aves esvoaçaram cantando.
A brisa leve afaga-te os cabelos, um piano espalha melodias. Desvias o olhar dos narcisos… Experimentas o veludo das camélias, o perfume das rosas inebria-te os sentidos, e sorris ao rubro das papoilas. No céu, nuvens brancas, frescas como o mar. Regressas devagar ao teu sorriso, como quem volta a casa.

* As palavras, expressões, frase em itálico são de nnanna

domingo, março 18, 2007

Viagem




Vi pelos teus olhos os sítios onde estiveste
Nas tuas palavras viajei
Vi as cores, as ruas e souks
De Damasco e da misteriosa Cairo

Senti o aroma da noz-moscada e da canela
Do jasmim e da menta fresca…
E pisei o mesmo chão

Depois dei-te o meu mundo
Os sons da minha alma escondida
Por trás dos véus
E as cores que trago nos olhos
O verde-escuro da paixão
Quando mergulho no teu corpo
O azul claro da ternura
Na hora que é paz e repouso