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Uma fundoscopia,
Sabes o que é?
É o que fui fazer,
aos meus olhos, outro dia.
O médico espreitou
o escondido
por detrás dos meus olhos
e viu.
Sonhos dourados com asas quebradas,
monstros que avançam,
docemente,
com a beleza do sol poente.
Gritos de ventura
mergulhados em negro
tristezas não esquecidas,
alegrias vividas,
castelos montados em areia
e rochedo.
Desejos sem corpo ou jeito…
No fundo dos meus olhos
há mil cores de arco-íris
apodrecendo a medo.
Há anjos malditos,
há gargalhadas, há gritos,
há paixões violentadas
há carícias frustradas,
há ódio e esperança,
medos perdidos no tempo
de infância amedrontada.
Há rostos de anjos, sorrindo ao mal,
rostos de adultos sem expressão
real.
No fundo dos meus olhos
que o médico viu
há vida e morte.
Há presente, futuro,
passado, desgraça e sorte.
No fundo dos meus olhos,
nos poços líquidos e húmidos
de tecidos estranhos
de cores purpúreas e viscosas
há cravos, urtigas e rosas.
Há vulcões ardendo lentamente,
há crateras explodindo brutalmente,
há lágrimas contidas, sem correr,
que ao solidificar, fazem doer.
No fundo dos meus olhos
que o médico ontem viu,
com a fundoscopia,
reina uma ameaça.
Uma guerra surda,
uma guerra de morte,
de desilusão.
Uma guerra fria,
ou em explosão,
avançando sempre,
lenta, sem aviso.
O médico tudo viu
no fundo dos meus olhos
nesse mundo escondido
que já não é secreto.
Real ou fantasia?
Veremos o que diz hoje
a radiografia.