terça-feira, outubro 30, 2007

É loucura...









É loucura desprezar as rosas
Porque uma me picou
Sepultar todos os sonhos
Porque alguns não se cumpriram
Condenar todas as amizades
Porque uma me traiu
Não acreditar no amor
Porque um foi ilusório
Deitar fora qualquer oportunidade
De ser feliz
Porque uma experiência me feriu




sábado, outubro 27, 2007

Como Posso Eu Amar-te



Amanhecer em La Latte



Como posso eu amar-te, se nem sei
como à porta te chamam os vizinhos,
nem visitei a rua onde nasceste,
nem a tua memória confessei.
Que vaga rima me permite agora
desenhar-te de rosto e corpo inteiro
se só na tua pele é verdadeiro
o lume que na língua se demora…
Não deixes que te enganem os recados
na infernal gazeta publicados
que te dão já por escultura minha;
nocturno Frankenstein, em vão soprei
trompas de criação, e foste tu
quem me criou a mim quando quiseste.





António Franco Alexandre, Duende, Assírio & Alvim

domingo, outubro 21, 2007

Impressões Digitais






Há algumas semanas, nós jantámos juntas. Tu deste-me a provar o teu prato. Eu lambi-te a ponta dos dedos. E aí, vi com espanto que, com o molho, eu também tinha sorvido as tuas impressões digitais.
Há algumas semanas, nós estreitámo-nos nos braços. Passei a mão pelos teus cabelos, e então os teus caracóis prenderam-se nas minhas impressões digitais como um pente de má qualidade. Completamente enredados, encrespados, esguedelhados.
Há algumas semanas, beijámo-nos. Demos as mãos e elas entrelaçaram-se. Uma na outra com suavidade. Como uma moca chinesa. Imbricadas. Agrafadas.
Há algumas semanas, dormimos juntas. Acariciei-te longamente durante a noite, a tal ponto que, ao acordarmos, as minhas impressões digitais estavam impressas na tua pele. O teu corpo estava cheio delas.
Há algumas semanas, fizemos amor juntas. O suor durante o abraço diluiu as nossas impressões digitais. Como uma má almofada de carimbo, eu vi-as escorrer sobre ti. Tornaram-se líquidas e fluidificaram-se sobre os poros da tua pele. Há algumas semanas, agarraste-me pelas costas. No entusiasmo do nosso abraço, meteste-me os dedos na boca. Para meu grande espanto, passados alguns minutos, notei que havia trincado as tuas impressões digitais. Estavam em bocados nos meus lábios e sobre o travesseiro, como um bombom esborrachado.


Bénédicte Martin



sexta-feira, outubro 19, 2007

Un Amour de Loin






Lorsque les jours sont longs en mai
[…]
Je me souviens d’un amour de loin
De désir je vais morne et courbé
Si bien que chant et fleur d’aubépine
Ne me plaisent pas plus que l’hiver gelé
[…]
Quand l’amant de loin sera si proche
Qu’avec l’esprit courtois il pourra jouir du plaisir
Triste et malheureux je m’en éloignerai
Si je ne vois cet amour de loin
Mais je ne sais quand je la reverrai
Car nos pays sont trop lointains
Il y a tant de passages et de chemins
Et pour cela je ne puis rien deviner
Mais que tout soit comme il lui plaît





Jaufré Rudel (excerto da canção Lorsque les jours sont longs en mai, também conhecida por Un amour de loin)

domingo, outubro 14, 2007

Valentine’s Day


Santa Cruz


Foto: Guincho, X. Maya (texto enviado por mail, by J.; autor ?)


Para os meus amigos




We still have not climbed to the highest mountains
Or seen the most beautiful blue coral seas
The spectacular moonlights and sunsets are waiting to be admired
We have not yet heard the most melodic and languorous love songs
Or have we seen the delicate red roses to bloom
Manny rainbows are still waiting to be contemplated
And the best hours of love making were procrastinated
Sensual kisses and tender caresses were not yet given
And our thirsty bodies are trembling to be explored
On an endless voyage
The best days of our lives are still waiting to be lived
Fantasies, orgasms and dreams to be fulfilled
And a fabulous woman anxious to be loved
And the best I have not told you yet
I loved you yesterday, I love you today, and if you wish I shall love you forever.


sexta-feira, outubro 12, 2007

Sonho



Foto: M.Flores (texto enviado por mail, by J.; autor?)




"Initium sapientiae cognitio sui ipsius"


In my dream there is someone else. A nameless beauty, a forbidden and aching want. She’s simply a dream, locked away in hidden desires which reality must never touch. Yet I ache for her touch… In my dream she’s as familiar as an old lover, exciting as a new partner. She’s soft, curvy, and strong. Nimble hands that know every inch of my body, kisses that make me weak in the knees. She makes me comfortable with all I am, all I need, all I desire....In my dream she leads me, commands me, takes me completely. Slowly at first, she kisses the back of my neck and adores the control over me. Her hands caress, undress, and lay me down. How could something that is so wrong feel so right? There‘s a voice inside that says this is wrong, that this affair is wrong, that I need to stop. But I can‘t. I feel the warmth of her skin on mine, and I can‘t stop. Fantasy and ecstasy melt away the fear. I am hers for now, right this moment and there‘s nothing I can do. Somehow getting caught or feelings of guilt just aren‘t an option; there‘s too much thrill in this dirty little secret. And so I moan softly as my mind goes blank; drowned in this forbidden desire. She kisses me with the assurance that this is so right, that she is there for me..

quinta-feira, outubro 11, 2007

Perfume


Foto: C. Carpier

no balanço de uma onda
largo-te rosas no oceano
a rota está traçada
já lhes sentes o perfume
caminhas à beira mar
na enseada do teu corpo
na âncora do meu destino
espalho as pétalas perfumadas
agora sim
podes serena e bela por fim adormecer


António Paiva

sábado, outubro 06, 2007

Maneiras de Dizer as Coisas


Uma vez, durante um serão, uma amiga contou-nos uma curiosa história das arábias. É essa mesma narrativa que aqui vos deixo, temendo que quem conta um conto aumente um ponto…


Uma sábia história árabe diz que, certa feita, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que acordou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse o sonho.
– Que desgraça, Senhor! – exclamou o adivinho – Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.
– Mas que insolente – gritou o sultão, enfurecido – Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!...
Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites. Em seguida, ordenou que trouxessem outro adivinhador e, mais uma vez, contou o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:
– Excelso Senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos familiares.
A fisionomia do sultão logo se iluminou num sorriso, e de imediato mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. Este agradeceu e retirou-se. Quando saía do palácio, um dos cortesãos disse-lhe, admirado:
– Não é possível! A interpretação que fizeste foi a mesma que o teu colega havia feito. Não entendo como a ti te paga com moedas de ouro e ao outro adivinho paga com cem açoites.
– Lembra-te meu amigo – respondeu o adivinhador – que tudo depende da maneira de dizer… Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra. Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não restam dúvidas. Todavia, a forma como ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos ao rosto de alguém pode ferir, provocar dor ou mesmo revolta. Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente, será aceite com facilidade. Neste caso, a embalagem é a condescendência, o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos. Ademais, será sábio da nossa parte se antes de dizer aos outros o que julgamos ser uma verdade, dizê-la a nós mesmos diante do espelho. E, consoante seja a nossa reacção, podemos seguir em frente ou deixar de lado o nosso intento. O que importa é ter sempre em mente que o que fará a diferença é a forma, a maneira de dizer as coisas…

terça-feira, outubro 02, 2007

Dunas

Foto: Kazuo O.

Foto: Nude Works